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08/04/2016 09:17:46

Nossa produtividade: brasileiro só vai à praia?

O mito da baixa produtividade do brasileiro já foi capa de revistas e jornais, mas será que ele é mesmo verdade? Confira a visão de um estrangeiro sobre o assunto.

Autor: Brian RequarthFonte: EndeavorLink: https://endeavor.org.br/produtividade-brasileira/

Quando falarmos em produtividade, precisamos pensar nos diversos fatores que fazem com que um país seja mais produtivo do que outro. Educação é o principal, mas não o único. Acesso à tecnologia, ainda mais nos dias de hoje, é outro fator essencial para que um país se torne mais eficiente e competitivo. Um último fator, que no Brasil é bem latente, é a burocracia. Afinal, quanto mais entraves burocráticos existem em um lugar, maior é a dificuldade para chegar no resultado que a empresa quer atingir.

A discussão sobre produtividade, porém, pode e deve abranger outros pontos. Fatores culturais, históricos e a estrutura de cada lugar também podem fazer parte do diagnóstico que nos leva a concluir o motivo de um país produzir mais do que outro. O debate é amplo e requer pesquisas e análises cuidadosas para não sermos levados a crer que o brasileiro produz menos por ir muito à praia.

Dados divulgados pela Conference Board, uma entidade americana, concluíram que um trabalhador americano é quatro vezes mais produtivo que um brasileiro. Mas, quando comparamos o Brasil aos Estados Unidos, precisamos entender os contextos educacionais, políticos e burocráticos que moldam o perfil dos trabalhadores.

O Brasil é um país com enorme potencial para desenvolver empresas das mais diversas áreas. Quem quer investir ou expandir os negócios, seja nas áreas de mercado imobiliário, automóveis, tecidos, bebidas ou qualquer outra que seja, precisa ter paciência, jogo de cintura e entendimento da dinâmica brasileira para conseguir resultados.

1.Falta de organização e burocracia

Decidi começar o VivaReal no Brasil pelo potencial que percebi no país para o mercado imobiliário e empresas de tecnologia. O que fui observando é que existia, no país, entraves burocráticos que poderiam prejudicar o negócio, caso eu os deixasse passar e tivesse a necessidade de resolver depois. Em outras palavras, a famosa burocracia que causa dor de cabeça para tantos empreendedores brasileiros.

Primeiro que abrir uma empresa no Brasil é algo que exige um tempo relevante. Depois, você percebe que precisa de uma equipe para cuidar apenas desses detalhes da burocracia brasileira, o que atrasa a implementação de projetos e, consequentemente, a produtividade. Agora, pare e pense: se a quantidade de detalhes é justamente o que precisa ser resolvido para que as empresas alcancem seus resultados, a burocracia é aquela famosa pedra no meio do caminho da qual Drummond tanto se queixou.

A falta de organização do mercado também atrapalha a produtividade. O mercado imobiliário brasileiro, por exemplo, tem uma dinâmica totalmente diferente do americano, com as informações desencontradas. Nesse caso, vi que o VivaReal poderia ser muito mais do que um site para anúncios de imóveis.

2. Desenvolvimento de tecnologia

O VivaReal, como eu disse, é uma empresa de tecnologia. No Brasil, o acesso à tecnologia é diferente de países da Europa e dos Estados Unidos. Um exemplo muito nítido disso é a dificuldade que milhares de brasileiros enfrentam para simplesmente comprar um celular de última geração ou ter acesso a internet rápida. Esses tipos de produtos são muito caros e exigem um comprometimento grande da renda que parte do país não pode bancar. E o porquê disso?

SÃO IMPOSTOS E MAIS IMPOSTOS EM CIMA DESSES PRODUTOS, FAZENDO COM QUE ELES SEJAM INVIÁVEISPARA PARTE DA POPULAÇÃO.

E essa relação afeta o país bem mais do que muitos podem imaginar. Se você está se perguntando como, é fácil de ilustrar. Vamos mudar um pouquinho o exemplo:

Pense além, imagine as tecnologias em relação a grandes máquinas que ajudam a acelerar a produção de carros, móveis, brinquedos e outros tantos produtos. Quando um país não consegue se atualizar em tecnologia, ele vai atrasar sua produtividade em relação aos outros países. Consequentemente, será difícil uma competição no cenário global.

3.A formação dos colaboradores

A educação em um país é o que há de mais importante a ser trabalhado para que a maioria dos outros fatores que abordei tenham melhoras. É perceptível a diferença entre os Estados Unidos e o Brasil no incentivo ao empreendedorismo, por exemplo.

A educação empreendedora ajuda as pessoas a terem ideias que possam otimizar serviços já existentes ou até mesmo criar coisas que não existiam e que vão facilitar uma série de atividades do nosso cotidiano. Temos, como exemplos globais, o Airbnb e o Uber. Os dois fizeram com que mercados tradicionais, o da hotelaria e dos táxis, tivessem que repensar seus modelos de negócios.

Nos Estados Unidos existe o incentivo a uma cultura de correr riscos, o que não é tão forte no Brasil.. O empreendedorismo no país é celebrado e admirado e os empreendedores são mais produtivos porque a sua motivação é maior do que a de alguém que não arrisca. Quem começa um negócio quer tanto fazer com que aquilo dê certo, que o foco é inteiramente no trabalho. Qualquer coisa não relacionada ao empreendimento é uma distração. Leituras, programas de TV e até mesmo filmes que o empreendedor traz para sua rotina são voltadas para sua ideia. Diferente, não é?

O empreendedor leva esse espírito de motivação para sua equipe. É o que chamamos de cultura da empresa. Em uma startup, é fácil perceber uma cultura motivacional para fazer com que o negócio dê certo, por conta da presença do fundador, do cara que respira o negócio e incentiva a equipe. Nas empresas mais novas, criadas nos anos 2000, é mais fácil ainda perceber esse clima.

COM O INCENTIVO, A PRESENÇA DE QUEM ACREDITA NO NEGÓCIO E UMA CULTURA EMPRESARIAL BEM ESTABELECIDA, A PRODUTIVIDADE DOS COLABORADORES É MAIOR.

Entrando mais na raiz da educação, um americano tem mais acesso a escola e ensino de qualidade do que um brasileiro. Em termos comparativos, os americanos passam mais tempo estudando e, como consequência, existem colaboradores mais preparados para lidar com a rotina e os problemas do trabalho.

A soma de todos os fatores

Tudo que escrevi até agora está interligado. Não há como melhorar a tecnologia se não existe educação de qualidade. Não podemos desburocratizar um processo se não temos tecnologia para isso. Ter colaboradores altamente produtivos não requer mudanças nas políticas das empresas. É preciso que as mudanças ocorram nas esferas governamentais e nas bases da educação.

As universidades deveriam dar mais atenção ao empreendedorismo e pensar fora do modelo de negócios tradicional. O meio acadêmico ajudaria, e muito, na produtividade, trazendo o questionamento dos padrões de hoje em dia. É preciso que o governo repense as leis existentes que tornam difícieis vários processos para os empreendedores. Com maior facilidade, a competitividade em escala global aumentaria.

O brasileiro não é menos produtivo por apenas pensar em praia. O que acontece é que ele não tem as ferramentas que precisa para ser mais eficiente. Como disse lá no começo, há espaço para o desenvolvimento de indústrias e comércios dos mais variados segmentos no país. É necessária a colaboração dos diversos segmentos da sociedade para que as pessoas tenham acesso com facilidade à educação de qualidade e tecnologia de ponta.

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